quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Prece de amazonense em São Paulo


Sim, hoje foi um dia triste, com todas estas notícias (veja as 4 últimas postagens) sobre a devastação da nossa Floresta Amazônica. Será que a conhecerei antes do seu fim?

Pra encerrar o dia (ou pelo menos o assunto, por hoje), quero homenagear a nossa querida Amazônia com este lindo poema de
Milton Hatoum, inspirado em Carlos Drummond de Andrade, que encontrei publicado no site do Estadao:

"Espírito do Amazonas, me ilumina,
e sobre o caos desta metrópole,

conserva em mim ao menos um fio

do que fui na minha infância.

Não quero ser pássaro em céu de cinzas

nem amargar noites de medo

nas marginais de um rio que não renasce.

O outro rio, sereno e violento,

é pátria imaginária,

paraíso atrofiado pelo tempo.
Amazonas:

Tua ânsia de infinito ainda perdura?

Ou perdi precocemente toda esperança?
Os que te queimam, impunes,

têm olhos de cobre,

mãos pesadas de ganância.

Ilhas seres rios florestas:

o céu projeta em mapas sombrios

manchas da natureza calcinada.

Tento abraçar a imagem fugidia

de um barco à deriva no mormaço

com os mitos que a linguagem inventa.

Espírito amazonense, tímido talvez,
e desconfiado para sempre,

não me fujas em São Paulo,

nem me deixes à mercê
dos pesadelos que incendeiam o mundo.

Se o Brasil te conhecesse antes do fim que se aproxima,
salvaria tua beleza? Teus seres desencantados?

Entenderia a ciência tua infinita riqueza?

Abre a janela de um barco
ante meus olhos, e que ao teu profundo rio conduza
a memória de línguas estranhas
e tantas histórias ocultadas:
Amazonas.

São Paulo, Manaus, setembro de 2007"

Nenhum comentário: