domingo, 18 de novembro de 2007

Crônica de uma confusão anunciada

Estado
Chávez levou pito e desatou a falar. Quer rever relações com a Espanha, acordou os críticos de Zapatero e desfila desconhecimento. *


Desde que levou um inesperado “¿por qué no te callas?” do rei Juan Carlos I, ao término da 17ª Cúpula Ibero-americana, no Chile, Hugo Chávez não parou mais de falar. O rompante de impaciência do rei, que se retirou da mesa dos conferencistas irritado com os ataques do venezuelano a seu país, serviu de elixir para a bravata chavista.

Ao longo da semana, foi diatribe por todo lado: Chávez disse que iria revisar as relações com a Espanha, que o rei teria de lhe pedir perdão, que o primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero se revelou defensor do antecessor direitista José María Aznar e que este não é só fascista, mas “o cachorro do império”. E mais um chute no Bush.

Para Josep Fontana i Lázaro, um dos mais respeitados historiadores espanhóis, Chávez criou um incidente para faturar um escândalo. “Ele hoje enfrenta os estudantes e passará em breve por um referendo na tentativa de mudar a Constituição a seu favor.” Criar um bafafá internacional agora, calcula Fontana, pode insuflar sentimentos nacionalistas e dar respaldo ao mandatário com apego ao poder.

A julgar pelas últimas pesquisas, a estratégia pode falhar: institutos de opinião apontam tendência de diminuição dos que votarão com o Palácio de Miraflores no polêmico referendo de dezembro.

Nesta entrevista exclusiva, Fontana destrincha o incidente-escândalo e vai muito além das expectativas imediatistas de Hugo Chávez. Ao mesmo tempo que perfila os governos de corte populista da América Latina, analisa a Espanha de Juan Carlos e Zapatero, as cicatrizes latentes do franquismo e as reações a um país que virou potência econômica, com liderança em vários segmentos - é a super-Espanha dos bancos, dos hotéis, dos grupos editoriais, das construtoras, que nem sempre é pródiga com seus cidadãos.

Fontana tem 71 anos, vive em Barcelona e alguns de seus livros foram publicados no Brasil. Entre eles, A Europa diante do Espelho e A história dos Homens (Edusc, 2005 e 2004, respectivamente). [Mais.]
* Entrevista com Josep Fontana - historiador, escritor e professor emérito da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona.

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